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quinta-feira, 25 de março de 2010

Eu sei, mas não devia

Meus tres fihos, ainda pequenos

Eu sempre gostei muito de ler, e tenho o maior ciume dos meus livros. Também gosto de ler bons artigos de revistas, como BONS FLUIDOS, ÉPOCA, VEJA, e outras que trazem notícias e boas informações. E hoje, organizando meu atelier, me deparei com uma pasta na qual eu guardo alguns escritos que me tocaram, e me fizeram refletir sobre a vida e o comportamento das pessoas, (até cheguei a estudar psicologia, porem não me formei, por razões muito fortes, contrariando minha vontade).
Quero compartilhar com vocês. Obrigada .
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Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)
Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

sábado, 20 de março de 2010

Familia Ávila

Uma brincadeira com as fotos da familia Ávila.

Uma forma de manter todos unidos e lembrar deles num relance só;
espalhados por este mundo afora, mundo este que cada dia fica menor.
O artista tem que brincar, assim como a criança.
É uma das maneiras de descobrir o mundo e a arte de viver e de fazer arte.
Nosso pai se foi aos 98 anos de idade, e minha mãe aos 88. Foram 68 anos de vida em comum, com muita fé e muito amor. Um exemplo.
Uns se foram, outros chegaram, alguns eu não tinha a foto, e a familia continua aumentando, sempre sonhando, fazendo arte, vivendo com alegria, e às vezes chorando de saudade, que na maioria das vezes, dói.... e o amor se mostra tão grande que mal cabe no peito.
O poema de Martha Medeiros me fez lembrar das diferentes formas de sentir saudade (uma palavra que não tem tradução, só sentimento)
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A Dor Que Dói Mais
por
Martha Medeiros

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que já morreu.
Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo,
quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ele no quarto,
sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista,
mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la,
mas sabiam-se amanhã.
Mas quando o amor de um acaba,
ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber.
Não saber mais se ele continua se gripando no inverno.
Não saber mais se ela continua clareando o cabelo.
Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu.
Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista
como prometeu.
Não saber se ele tem comido frango de padaria,
se ela tem assistido as aulas de inglês,
se ele aprendeu a entrar na Internet,
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
se ele continua fumando Carlton,
se ela continua preferindo Pepsi,
se ele continua sorrindo, se ela continua dançando,
se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber.
Não saber o que fazer com os dias que
ficaram mais compridos,
não saber como encontrar tarefas que
lhe cessem o pensamento,
não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
não saber como vencer a dor de um silêncio
que nada preenche.
Saudade é não querer saber.
Não querer saber se ele está com outra,
se ela está feliz,
se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama,
e ainda assim, doer.

domingo, 20 de setembro de 2009

Mistérios da vida

Mistérios da vida
por Maria Ávila

Toda idade tem seus encantos,
mesmo que estejam escondidos
e às vezes nos causam prantos,
mas há que ser forte,
e não se dê por vencido
porque a beleza está
no mistério da vida,
AGORA,
com alegria e gratidão,
o que passou passou,
e não foi em vão.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sempre há um novo amanhecer

Sempre há um novo amanhecer
por
Maria Ávila

No silêncio eu me faço companhia
Seja de noite ou de dia
Sempre é hora de recolher
A alma pede descanso
Pede luz e harmonia
Antes mesmo de morrer

A morte passou por perto
Mas seguiu em frente
Me deixou pra trás
Ainda tenho que esperar
A minha hora chegar

Ela vem vindo de mansinho
Eu a vejo no caminho
Mesmo com a porta fechada
Ela me na sacada
E me olha com carinho

A morte é a vida do outro lado
Quem sabe? Quem veio contar?

As ondas tocam quem por ela espera
Fico parada e a sinto me acariciar
Feliz estou por ter podido esperar

Por Maria Ávila

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Bons tempos de criança

Bons tempos de criança
Cheia de esperança,
Um olhar centrado
Um sorriso fechado
mas coração aberto
para a vida....bem vivida.

E o laço...
Tão grande quanto a imaginação,
e naquela ocasião nem sabia,
o que Eistein dizia:
"que a imaginação é mais importante que o conhecimento".

Nem por isso parei
de buscar o saber,
mesmo sem ler
eu observava
os passos de quem passava
pela rua onde morava.

queria ser artista,
educar o olhar atento
a todos os acontecimentos,
concentrada em cada momento
na certeza de que um dia faria
"Belas Artes".

Sem conhecimento acadêmico,
fiz e faço o que meu coração dita.
Sou Feliz,
sempre fui.
Basta estar vivo
e agradecer a vida que flui
sem esforço e com a alma lavada,
nem que seja de lágrimas,
de tristezas, nunca mais.

por Maria Avila
26 de maio de 2009

Assim eu vejo a vida

Sempre me sinto tocada quando leio os poemas de Cora Coralina.
Então, olhando as fotos dos meus quadros (os tantos que continuam sendo meus mas que já não mais estão comigo), me fez voltar ao passado e lembrar de todo o esfôrço que a gente faz para seguir um sonho.
O tempo passa, a gente envelhece, morre, depois fica conhecida pela obra que deixou. Não é assim que dizem?
Comigo tem sido um pouco diferente, porque eu nunca almeijei fama. Sempre pintei pela vocação que Deus me deu. Realmente é preciso ter vocação porque o caminho não é fácil, mas compensa toda a luta quando a gente sente o coração bater forte, e aquela alegria interior que só quem sente sabe como é, quando vemos o nosso trabalho sendo respeitado, levando alegria às pessoas que apreciam arte.
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Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina
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